Habitada por índios de origem tupinambá quando da chegada dos portugueses ao continente americano, a Baía de Todos os Santos – assim batizada em 1501 pela expedição portuguesa encarregada de reconhecer o litoral sul-americano – foi palco de uma das mais significativas experiências da colonização atlântica moderna.
Dotada de uma condição geográfica privilegiada – larga, segura, amplamente navegável e rica em recursos naturais – a baía foi escolhida para acolher, a partir de 1549, a cidade de São Salvador, sede do poder político, militar e religioso da colonização portuguesa na América, e em cujo entorno floresceu um vasto cinturão agrícola destinado à produção de gêneros tropicais exportáveis, sobretudo a cana-de-açúcar, preferida nos terrenos argilosos dos setores setentrional e ocidental do recôncavo.
Em outras porções da baía, sempre que o solo não favorecesse o cultivo da cana, outras atividades produtivas tiveram lugar, com destaque para o tabaco, importante mercadoria na ativação dos circuitos comerciais com a África, e também a produção de gêneros agrícolas indispensáveis à manutenção do empreendimento colonial, seja para alimentação dos engenhos, ou da crescente população dos centros urbanos da região.
Um empreendimento dessa natureza exigia a mobilização de grandes contingentes de mão-de-obra e, uma vez, sendo insuficientes as populações indígenas, lançam mão do trabalho cativo de origem africana, fazendo da região um dos principais núcleos escravistas da América, onde experiências de violência, opressão e lutas pela liberdade se somaram para contar as histórias de índios e africanos na recriação do seu cotidiano.
A ampla navegabilidade da baía, por sua vez, foi decisiva para o sucesso da empresa colonial, servindo de elemento de interiorização da conquista e integração entre as diferentes unidades produtoras, que encontravam em Salvador o porto para escoamento da produção, bem como para aquisição de escravos e demais produtos. O contexto fazia da cidade um dos mais importantes centros comerciais do Atlântico, verdadeira “metrópole colonial”, conforme a historiadora Kátia Mattoso¹.
A interação de tantos povos e influências em um meio peculiar deu origem a uma sociedade multicultural, herdeira de tradições diversas, constantemente reinventadas no processo de produção da sobrevivência. Os registros dessa experiência ainda marcam a paisagem e a cultura das populações que habitam a Baía de Todos os Santos, através de exemplares do patrimônio histórico edificado – igrejas, capelas, engenhos e casarios, etc. –, bem como de um rico repertório de práticas culturais. Entre essas, merecem destaque as tradições religiosas e festivas que marcam o calendário cívico-religioso baiano, e a cultura da pesca e da navegação, fundamentais na atualidade para o sustento das populações quilombolas e ribeirinhas residentes no entorno da baía.
Autor
Caio Adan
¹ MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Bahia, Século XIX: uma província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992, p. 75..
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